Opinião | 27-03-2024 21:00

Como desperdiçar 760 mil euros no ano em que Samantha Fox vem ao Ribatejo

Emails do outro mundo

Espantástico Manuel Serra d’Aire

Espantástico Manuel Serra d’Aire
Um sinal divino chegou-me através das redes sociais e com ele a risonha perspectiva de ficar milionário sem grande esforço. Uma senhora cujo primeiro nome é Angela (assim sim, mesmo, sem acento) contactou-me a dizer que não sabia se tinha sido Deus a enviar-me até ela – e não foi, disso tenho a certeza, nem Deus nem eu – mas deu graças ao Altíssimo porque tinha “informações muito importantes para compartilhar” comigo. E, só para que saibas, não era o estado do tempo para a Páscoa, quem vai ser campeão de futebol ou quanto tempo vai durar o próximo Governo. Não, a altruísta Angela, que informava morar em França e ser viúva e sem filhos, confessava estar gravemente doente e queria, “simplesmente”, ressalvava ela, doar parte da sua fortuna de 760 mil euros “a uma pessoa confiável e atenciosa”, que ela terá descoberto neste modesto escriba.
Quando a esmola é grande o pobre desconfia. Não que não merecesse esses 760 mil euros de mão beijada a que, pelos vistos, a rica enferma não consegue dar melhor destino; mas quando alguém que não me conhece minimamente me descreve como pessoa confiável e atenciosa é de ficar com a pulga atrás da orelha. Porque se há coisa em que não me torno quando me contactam do pé para a mão a quererem oferecer-me um balúrdio é precisamente num ser confiável e atencioso. E assim, sem dar o retorno que a criatura solicitava para ter acesso à choruda herança, acabei por desperdiçar uma fortuna. É no que dá a casmurrice...
Casmurro e também avesso a confortos e mordomias deve ser o homem que, em Marinhais, prefere viver numa casa que ficou com a construção a meio, sem portas e janelas, sem água e sem luz, e ainda por cima sem autorização do proprietário, em vez de ocupar a casa que a Câmara de Salvaterra de Magos lhe ofereceu há uns anos. Será para poupar no gás, na água e na electricidade? Será para não aturar vizinhos? Seja como for, esta é mesmo a notícia do homem que mordeu o cão, num tempo em que tanta gente espera e desespera por habitação condigna e a preços acessíveis.
Manel, a indústria da saudade, o mercado da nostalgia está bastante florescente nos tempos que correm. Não faltam tributos a bandas dos anos 70, 80 e 90, cineastas regressam ao preto e branco, os discos em vinil estão na moda, os regimes autoritários e autocráticos estão viçosos, os políticos populistas crescem como cogumelos. Enfim, a História repete-se e o meu maior receio é que a guerra fria, a ameaça nuclear e as calças à boca de sino voltem mais uma vez em força. E, nesse campo, a vinda em Julho da Samantha Fox a uma festa dos remembers a Tomar é mais um mau presságio. O mundo pode estar mesmo para acabar... Mas, mesmo assim, vou lá estar para tentar que a vistosa artista britânica, em tempos também famosa pelo seu avantajado busto, me assine a capa do single “Touch Me” com que pôs tantos adolescentes a sonhar. Assim já podia morrer descansado…
Um bye-bye do
Serafim das Neves

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