Opinião | 24-04-2024 21:00

A confusão entre campos agrícolas e campos de golfe e o modelo “faça você mesmo” em Salvaterra de Magos

Emails do outro mundo

Camarigueiro Manuel Serra d’Aire

Camarigueiro Manuel Serra d’Aire
“Não dês o peixe, ensina a pescar”. Este provérbio chinês continua a fazer escola e a Câmara de Salvaterra de Magos parece estar atenta e a praticar com particular empenho esta filosofia de vida, tendo adoptado a máxima: “Queres um passeio à porta de casa, mete mãos à obra e trata de o construir”. Ao que consta, a autarquia está a dizer ao munícipes que se atrevem a reclamar pela falta de passeios que não há dinheiro para isso e que, se os querem, que os façam eles.
É uma réplica do modelo “faça você mesmo” que apela à livre iniciativa, à prática da bricolage e a pôr, literalmente, as mãos na massa; sendo que neste caso a massa é uma mistura de areia cimento e água e não notas de euro. Pelo que li em O MIRANTE, há quem não goste de ser desafiado a vergar a mola para ter um passeio à porta de casa, o que para mim é uma atitude incompreensível e até lesiva da saúde e bem-estar físico e mental, quando se sabe que o trabalho braçal é um bom escape para o stress.
Ora aqui está um exemplo de poder próximo dos cidadãos, potenciador da cidadania activa que tanta gente reclama. Aliás, a Câmara de Salvaterra de Magos, que devia ser um caso de estudo, só peca por defeito. E esse modelo devia ser alargado a outras áreas. O povo queixa-se das ruas sujas? Pois então que agarre na pá e na vassoura e trate de apanhar a porcaria. Os passeios (onde existem) estão cheios de ervas daninhas e calçada arrancada? Agarrem no herbicida e no martelo e ponham aquilo num brinco. As estradas estão esburacadas? Comprem umas carradas de saibro e tapem os buracos. Ou querem a papinha toda feita, só porque pagam umas dezenas de euros por ano de IMI?
João Moura Rodrigues, líder distrital de Santarém do PSD e deputado na Assembleia da República, foi nomeado secretário de Estado da Agricultura, como tu merecidamente sublinhaste. A notícia caiu no meio rural como uma bomba numa loja de porcelanas ou uma praga de gafanhotos num campo de trigo, porque não se conhece especial aptidão agrícola ao visado, embora o mesmo possua uma licenciatura em Engenharia Agro Pecuária. Obviamente, as más línguas de serviço, onde eu não me incluo, trataram de satirizar essa surpreendente nomeação, dizendo que alguém confundiu campos de cultivo com campos de golfe, terrenos onde João Moura estará mais à vontade.
A verdade é que temos tido tantos ministros e secretários de Estado de tão elevado gabarito, como o icónico Rui Barreiro que tu tanto admiras, que não virá mal ao mundo que João Moura não saiba da poda e que tenha mais habilidade para agarrar no taco de golfe do que no cabo de uma enxada - desde que não se ponha a inventar e lhe dê para reabrir a caça ao melro, como fez o outro. Até porque na Internet há tutoriais para tudo, que tanto ensinam a semear batatas e nabos como a ser governante em meia dúzia de lições. E, se mesmo assim não resultar, pode pedir explicações à anterior ministra da Agricultura, a abrantina Maria do Céu Albuquerque, que agora é capaz de ter vagar para o aturar.
Saudações revolucionárias do
Serafim das Neves

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