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Hospital de Torres Novas ajuda Santarém a resolver problema do bloco operatório

Administrador do Centro Hospitalar do Médio Tejo ofereceu colaboração há ano e meio mas só agora está a avançar.

Com uma situação complicada devido às deficientes condições do bloco operatório do Hospital Distrital de Santarém, que várias vezes tem de encerrar porque os sistemas de renovação do ar, obsoletos, não dão segurança para as cirurgias, o administrador do Centro Hospitalar do Médio Tejo (CHMT) ofereceu ajuda ao colega de Santarém. Há ano e meio que o presidente do conselho de administração do CHMT (hospitais de Torres Novas, Abrantes e Tomar), Carlos Andrade, manifestou a sua disponibilidade para colaborar mas só recentemente o administrador de Santarém, José Josué, começou a reunir para se iniciar a cooperação.

Carlos Andrade defende a articulação entre hospitais e até, pessoalmente, entende que a criação de uma gestão única para os quatro hospitais do distrito aumenta os níveis de assistência e quem ganha são as populações. O administrador do Centro Hospitalar do Médio Tejo é licenciado em Direito e tem um curso de administração hospitalar. É um gestor com experiência na saúde, tendo passado pelo Instituto Português de Oncologia, administrador delegado da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, cargo que também exerceu em todos os equipamentos de cariz hospitalar da Misericórdia de Lisboa. Foi o único civil a gerir hospitais militares, como membro da direcção dos hospitais das forças armadas.
A saída do internamento de Cardiologia de Torres Novas para Abrantes é para libertar espaço para instalar serviços do Hospital Distrital de Santarém? Este ajustamento, que tem a ver com a necessidade de reduzir listas de espera, far-se-ia sempre e não está condicionado por nenhuma colaboração eventual com o Hospital Distrital de Santarém. Ocorre numa fase próxima com aquilo que tem sido o diálogo com o conselho de administração do Hospital de Santarém.
Porque é que o Centro Hospitalar do Médio Tejo entendeu disponibilizar instalações a Santarém? Temos alguma capacidade de colaborar e minimizar os problemas que ocorrem em Santarém, nomeadamente ao nível da sua capacidade cirúrgica. Dissemos há cerca de ano e meio que estávamos disponíveis para ajudar, para colaborar e mantemos até hoje essa vontade.
Tanto tempo para uma questão essencial? Já está tudo acertado? Passado um ano e meio as coisas começam a ganhar alguma forma. Temos tido contactos cada vez mais frequentes com o Hospital de Santarém e perspectiva-se que a colaboração se efective a curto prazo.
O que é que o Hospital de Santarém vai utilizar em Torres Novas? O hospital manifestou vontade de ter aqui a curto prazo uma unidade de internamento de medicinas, o que deverá ocorrer durante o Verão. Depois esta situação evoluirá para uma unidade cirúrgica. Nós faremos o que sempre dissemos de há um ano e meio a esta parte e entregaremos o bloco operatório do Hospital de Tores Novas ao Hospital de Santarém.
O bloco tem todas as condições? É um bloco operatório muito bom, com 15 anos, que está fechado porque não há actividade cirúrgica convencional na unidade de Torres Novas. Havendo constrangimentos em Santarém na sua capacidade cirúrgica, nós disponibilizamos o nosso bloco.
Não é normal um hospital andar a oferecer serviços ou instalações a outro… Há um ano e meio já se percebia que os constrangimentos iriam crescer. Quem está nos hospitais há muitos anos percebe isso, nem precisa de ter muitos detalhes sobre a realidade para perceber que a situação é tecnicamente complexa. E uma situação tecnicamente complexa num hospital não se resolve de um dia para o outro.
Esta colaboração entre hospitais do distrito pode abrir uma nova era na interacção entre administrações hospitalares? Esperamos que seja um novo momento de colaboração. Se podemos aumentar os graus de auto-suficiência do distrito de Santarém, na prestação de cuidados de saúde à população, seria desagradável se os dois conselhos de administração não trabalhassem nesse sentido. Cada um por si pode fazer muito mas em articulação podemos fazer mais ainda.
É necessária mais cooperação entre entidades? Sempre me bati por essa articulação. Podemos ajudar-nos uns aos outros e fazer mais. O ambiente hospitalar é muito de cooperação. O Serviço Nacional de Saúde (SNS) assenta em mecanismos de complementaridade e articulação e não podemos rejeitar esses mecanismos quando pretendemos aumentar o nível de resposta no nosso distrito. Não podemos ignorar os valores do SNS, fingindo que não precisamos uns dos outros. Precisamos, temos condições para nos apoiarmos.
Esta cooperação pode ser a oportunidade para a constituição de um grupo hospitalar, que já foi falada? Esse assunto está morto, tanto quanto sei. Os hospitais têm uma fortíssima tradição de colaborarem, no nosso distrito não tanto, e isso não implica que evoluam para um modelo de grupo hospitalar ou centro hospitalar. A colaboração com o Hospital de Santarém não quer dizer mais do que isso, que é de colaborar numa altura em que Santarém está diminuído na sua capacidade cirúrgica.
Mas concorda que exista uma gestão única para os hospitais do distrito? Defendo que no contexto em que estamos seria útil essa situação. Não é essa a posição do distrito e há que respeitar. Não havendo unanimidade… Como cidadão acho que traria frutos, nomeadamente não teríamos perdido um ano e meio a colocar os nossos recursos a favor de Santarém. Mas a minha opinião não conta.
Os cidadãos ficam mais bem servidos se os hospitais trabalharem em conjunto? O cidadão comum, a quem se dirige a nossa actividade, percebe isto claramente. Não faz sentido não aproveitarmos todo o potencial que o distrito tem e deixarmos ir os nossos doentes para fora do distrito. Isso é assumir pouca ambição para a saúde no distrito e as instituições têm de ter alguma ambição como forma também de contagiar os seus profissionais. E os profissionais de saúde gostam de trabalhar com desafios, com perspectivas de evolução do seu trabalho.
Tem sido fácil o diálogo com o Hospital de Santarém? As coisas demoram, todas, o seu tempo. As instituições têm de se abrir. O “orgulhosamente sós” não nos conduziu a lugar nenhum simpático. Quando estamos orgulhosamente sós não evoluímos na direcção correcta. É um diálogo paulatino, não é fácil. Qualquer alteração com algum impacto é difícil. Se estivermos unidos ganhamos força e poder, na medida em que afirmamos a capacidade do distrito na prestação de cuidados.
E há alguma perspectiva que o centro hospitalar também possa utilizar alguns recursos de Santarém? Não temos qualquer problema nisso. Tínhamos dificuldade em ter o banco de orto-traumatologia (trata doenças do sistema músculo-esquelético) aberto todos os dias da semana. À terça-feira não conseguíamos ter o banco aberto e falámos com os colegas de Santarém e pedimos ajuda. Os nossos doentes passaram a ir a Santarém. É uma situação provisória, porque queremos resolver isto, mas pedimos ajuda para não deixar os doentes sem assistência.
O centro hospitalar e o Hospital de Santarém têm falta de médicos, isso também não ajuda a aumentar os níveis de assistência. Mais uma razão para cooperarmos. Quando nem Santarém nem o Centro Hospitalar do Médio Tejo têm o número de médicos que precisariam é mais uma razão para aproveitarmos ao máximo tudo o que temos, em prol da população, e evitar que esta espere mais do que é conveniente e/ou saia do distrito para receber cuidados de saúde. Estamos cá para servir a população e se isso nos obriga a trabalhar em rede, é isso que devemos fazer.

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