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O palco distingue os meninos dos homens
Pedro Ricardo progrediu na guitarra maioritariamente como autodidacta e João Corceiro sente-se privilegiado por estar no centro do país

O palco distingue os meninos dos homens

O MIRANTE conversou com dois músicos da região que comungam a mesma paixão pela guitarra e pela música pesada. Embora com projectos independentes partilham o grupo de tributo aos Pearl Jam, onde interpretam versões desta banda icónica norte-americana. Sobre a cena musical em Santarém as opiniões dividem-se. A conversa assinalou o Dia do Rock que se comemorou a 13 de Julho.

Pedro Ricardo tem 24 anos e é amante de música desde a primária, fruto da influência do seu pai, que era músico. Foi o progenitor que lhe deu a conhecer algumas bandas, como Queen, AC/DC ou The Beatles, e lhe ensinou os primeiros acordes de guitarra. O estudo mais aprofundado foi feito durante um ano numa Escola de Jazz em Santarém o que, diz, contribuiu para aprender alguma teoria, mas o seu verdadeiro progresso foi uma conquista individual e autodidacta. Chegou a praticar oito horas por dia porque “sem esforço não há frutos”. Hoje não perde tempo com coisas desnecessárias e consegue ir directo aos erros e aos pormenores. A guitarra foi o instrumento que escolheu por ser o que considera mais humano e mais expressivo, com mais alma.
O seu primeiro projecto a sério foi a banda de originais Drivingwest, de Almeirim, terra de onde é natural. A banda chegou a gravar uma EP de cinco faixas e lançou dois singles. Actualmente, faz parte das duas bandas de tributo, uma aos Xutos e Pontapés, a PSX (Para Sempre Xutos), e outra aos Pearl Jam, Alive. Para Pedro as bandas de tributo estão na moda porque as pessoas gostam do que já conhecem. Outro dos projectos que destaca é o que iniciou com o amigo Isaac Pimenta, que chegou a participar no The Voice Portugal. “Além da parte musical, estou a explorar a produção musical o que me ajudou nesse projecto com Isaac, onde chegámos a produzir alguns originais”, conta.
Foi também através da Internet que Pedro começou a aperfeiçoar as suas capacidades vocais, além de cantar, aprendeu gutural (uma soma de várias técnicas que através de uma distorção na voz produz um som rouco). Confessa que todas as vivências musicais lhe abriram os horizontes para explorar novos estilos. O metal é o seu estilo favorito, mas no seu ecletismo cabem também a música clássica, o jazz, os blues, o country e alguma música electrónica.
Fala da sua paixão, o metal, como uma ramificação do rock: “Da mesma maneira como o rock vem do country e dos blues, o metal é apenas uma sequência que se tornou bem mais abrangente do que o rock apesar deste ter diversos subgéneros também”.
O músico conta a O MIRANTE que Santarém está bem representada a nível nacional e até internacional, através da banda WAKO (We Are Killing Ourselves), que considera uma das melhores do país.
Quando está em palco o mais importante é o sentimento de unidade com os membros da banda e com o público. Para o músico, uma banda só se consegue posicionar no movimento underground se tiver identidade e sinceridade. É importante saber definir o público-alvo, ter uma boa gestão e, acima de tudo, saber chegar às pessoas. “Tem que haver uma marca e uma boa divulgação online e para isso é preciso muita dedicação” conclui.

Faz-se boa música, mas bons espectáculos raramente
João Corceiro, também de 24 anos, é licenciado em música, na vertente de guitarra clássica. Na sua primeira aula de música, aos 12 anos, recebeu uma guitarra. O gosto pelo metal surgiu através da sua irmã mais velha que é tatuadora e trabalha no meio alternativo. Reparou no interesse do irmão pela música pesada e deu-lhe uma lista de músicas que João tocou até à exaustão. Além dos seus projectos a solo, o músico pertence a bandas de covers (versões) e de originais, e defende que cada uma tem o seu propósito. Nos covers, que acabam por ser o seu ganha-pão, está nos Prova de Fogo, uma banda da região, e, juntamente com Pedro Ricardo, faz parte dos Alive, banda de tributo a Pearl Jam.
No que toca a originais, dedica-se neste momento aos Awaiting The Vultures, a banda do ex-baterista dos Switchtense, bastante conceituado no meio. Recentemente foi convidado para ser um dos guitarristas dos Okkultist, que têm como vocalista Beatriz Mariano, “uma figura relevante do meio underground”. Esta é a única banda acolhida, até agora, pela produtora Moonspell.
Para João Corceiro o sucesso de uma banda começa com “boa música, uma excelente produção e um grande CD”. Esse é o primeiro passo, confirmado depois em palco. “É em cima do palco que provamos se somos realmente bons”, refere, acrescentando que é ali que se “distinguem os meninos dos homens”. Conta pelos dedos da mão as bandas que, na sua opinião, merecem sucesso. “Faz-se boa música, mas bons espectáculos raramente” e por essa razão coloca a fasquia do movimento underground em Portugal em níveis baixos.
Numa dimensão local, considera que Santarém tem pouca cultura alternativa, comparando com outras cidades semelhantes como Leiria, Coimbra ou Évora, no entanto sente-se privilegiado por estar no centro do país.
A música não é só um ramo, é um universo de coisas para fazer e não basta ter uma banda. João Corceiro é também professor de música. Deu aulas presenciais, em escolas, mas teve que recorrer ao online para conseguir manter alguma actividade. “Os efeitos da pandemia na minha carreira foram devastadores, não há trabalho para ninguém nesta área”, lamenta.
Depois de abrir portas à produção musical, queria ouvir as suas composições na qualidade de um CD, e decidiu aprender a mistura e a masterização. Recorrendo ao programa Guitar Pro, que possibilita escrever música em vários instrumentos, já completou 14 originais que envolvem bateria, baixo, guitarra, orquestração, teclas e voz.
Em 2017 aprendeu a técnica do gutural, fruto de um episódio que aconteceu com a sua antiga banda, os Purusha. Os músicos tinham um concerto agendado com grandes nomes do metal mas o vocalista adoeceu e não conseguia actuar. Como não podiam perder a oportunidade João aprendeu a “berrar”, assumindo a função do colega e descobriu que tudo é possível.
O seu primeiro concerto foi em 2010, no Jardim da República em Santarém, lugar onde decorreu a entrevista a O MIRANTE. “Naquele dia o jardim encheu com centenas de pessoas e foi aí que percebi que o meu lugar é no palco”, afirmou o músico natural de Beja, mas a viver em Santarém há mais de duas décadas.

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