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“CNEMA pode ser mais útil à cidade de Santarém e à região”
Eduardo Oliveira e Sousa, presidente do CNEMA, garante que a Feira Nacional de Agricultura tem que se realizar em 2021, mas ainda não sabe em que moldes

“CNEMA pode ser mais útil à cidade de Santarém e à região”

Eduardo Oliveira e Sousa é presidente da CAP – Confederação dos Agricultores de Portugal e do CNEMA – Centro Nacional de Exposições e Mercados Agrícolas. Nesta entrevista reconhece que o parque de exposições de Santarém tem estado subaproveitado face à sua dimensão e que é necessário torná-lo mais útil à cidade e à região. Fala abertamente das dificuldades financeiras que o CNEMA atravessa, sem actividade, com funcionários em lay-off e um futuro recheado de incertezas. A segunda parte da conversa, mais virada para a agricultura, será publicada na próxima edição de O MIRANTE.


A inactividade a que o Centro Nacional de Exposições e Mercados Agrícolas (CNEMA) tem estado sujeito, por força da pandemia, já está a deixar marcas profundas?

Está, obviamente. O CNEMA não pôde fazer a Feira Nacional de Agricultura (FNA) 2020, que é o nosso principal certame durante o ano. O impacto financeiro nas contas do CNEMA é enorme. De um ano para o outro vimo-nos confrontados com uma situação financeira complexa, que tem que ser gerida com cuidado. Temos de ver se conseguimos voltar a desenvolver actividade com expressão em termos de resultados, que possam não só resolver o serviço da dívida, fruto das linhas de crédito a que recorrermos, como também a insustentabilidade de manter toda esta estrutura praticamente fechada.

O que significou em termos de perda de receita este cancelamento de actividades?

A FNA movimenta milhões de euros. De um ano para o outro foram milhões de euros que deixaram de circular no CNEMA. O resultado da exploração da feira está expresso nas nossas contas e ronda umas centenas de milhares de euros, que suportam o CNEMA o resto do ano e que este ano não existiram.

Neste quadro de incerteza em que vivemos, que planos podem ser feitos para 2021?

Temos que repensar muito bem que FNA faremos em 2021, porque queremos fazê-la, mais digital ou menos digital, provavelmente com muito menos pessoas, com um regime de acesso diferente e com menos actividades lúdicas como os concertos, que geram maior aglomeração de pessoas…

Mas que trazem também muitos visitantes e muita receita.

Por isso é que digo que a FNA vai ter de se fazer, mas em moldes completamente diferentes. E estamos à procura de outros eventos e outras ideias que possam surgir. Inclusivamente já debatemos em conselho de administração a possibilidade de tentar fazer no CNEMA um evento vocacionado para toda a região.

Não na área da agricultura?

O CNEMA não serve apenas para se fazerem exposições agrícolas. É uma infraestrutura da região, mais do que da cidade de Santarém, que a região procura pouco.

Então o que tem faltado mais sinergia entre o CNEMA e os municípios, por exemplo?

Está em cima da mesa a necessidade de entusiasmar um conjunto de entidades, e não apenas a cidade de Santarém, para lhes dizer que está na altura de darmos as mãos e de potenciar a região como um todo, em vez de estarmos a potenciar esta ou aquela terra. Isto vai envolver as organizações industriais, a Nersant, os municípios, as comunidades intermunicipais. Temos aqui um espaço enorme, com um parque de estacionamento fantástico, com um acesso à auto-estrada fantástico, localizado a meio do país.

A Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo (CIMLT) tem a sua sede no CNEMA. Como são as relações entre as duas entidades?

São óptimas. Já houve um primeiro contacto. Esta ideia surgiu da necessidade de explorar novos mundos. Quem sabe se dentro de algum tempo não podemos ter aqui um evento que traga o Ribatejo todo, nas suas diferentes vertentes, agrícola, industrial, turística, gastronómica, cultural e oferecer à região uma montra, pois não existe em parte nenhuma do Ribatejo uma instalação com as características do CNEMA.

A relação entre a cidade e o CNEMA parece vir a definhar com os anos e a população de Santarém vem ao parque de exposições por altura da Feira da Agricultura e pouco mais. É uma situação que pretende inverter?

Exactamente. Aliás, foi feito um investimento muito grande há dois anos com a criação de uma pista equestre de características olímpicas, onde podem ser feitas provas nacionais e internacionais. Infelizmente, ainda não teve a visibilidade que deveria ter pelo próprio sector equestre. Santarém tem dificuldade em acolher grandes eventos por causa das instalações hoteleiras, que são insuficientes.

A escassez de alojamento em Santarém acaba por afectar a procura do CNEMA para a realização de grandes congressos, por exemplo?

Sim. Temos que ir à procura de soluções integradas para tentar resolver esse problema. O CNEMA está aberto a procurar essas soluções e encontrar nessas sinergias uma proximidade não só aos habitantes de Santarém como de outras áreas. Temos que quebrar um bocadinho aquele estigma de que o CNEMA é só de Santarém. Não, o CNEMA é de todo o Ribatejo.

O CNEMA tem um grande auditório que podia ser a sala de espectáculos da cidade para eventos de maiores dimensões, já que o município não a tem.

Está a tirar-me as palavras da boca. Uma das primeiras perguntas que fiz quando assumi a presidência do CNEMA foi para saber que tipo de eventos culturais é que Santarém fazia no CNEMA. Disseram-me que fazia muito poucos, tentei saber porquê e as respostas são, de uma maneira geral, um pouco ambíguas. Já houve aqui alguns eventos, nomeadamente concertos de Ano Novo, mas acho insuficiente. A oferta existe, bem como a disponibilidade de alugar o espaço, para que a população possa usufruir das condições extraordinárias que o auditório tem. Se não fosse a Covid, o auditório estaria a ser modernizado.

Há contactos com a Câmara de Santarém nesse sentido?

A câmara está totalmente envolvida nesse processo, até porque essas decisões são tomadas em conselho de administração, onde a câmara está presente, atendendo à sua condição de accionista de relevo.

Negócios frustrados e processos em tribunal

O município é o segundo maior accionista do CNEMA. Que influência tem a Câmara de Santarém nas tomadas de decisão da administração?

Sou presidente do CNEMA vai para quatro anos e ainda não houve qualquer decisão que não fosse por unanimidade. O envolvimento do município tem sido total e de consenso. Também ainda não tivemos matérias que suscitassem divisão de opiniões. Em todos os projectos que temos estado envolvidos - e o mais recente é o do parque fotovoltaico criado no parque de estacionamento – tem havido acordo entre os accionistas.

Falou-se há uns tempos que a câmara pretendeu comprar um terreno no CNEMA para construir um complexo desportivo e que terá sido pedido um preço na ordem dos 20 milhões de euros, o que terá inviabilizado o negócio. Isto tem algum fundo de verdade?

O que tem um fundo de verdade é que a Câmara de Santarém quis comprar o terreno. Nós mandámos avaliar o terreno e a avaliação não falou em 20 milhões, falou em 7 ou 8 milhões, creio eu. Mesmo com esse valor a câmara considerou não ter condições para negociar. Entretanto veio a crise pandémica e não sei se o município levou por diante esse projecto noutra área. Mas os números são estes.

E não há possibilidade de o CNEMA fazer um desconto ao seu segundo maior accionista?

Aqui não é uma questão de haver desconto, é uma questão de objectividade. O CNEMA não pode prescindir do património que tem pois necessita de se viabilizar. Aliás, em tempos o CNEMA passou por uma crise financeira muito grave que foi resolvida com a venda daquele pedaço de terra onde está o Retail Park. Agora estamos outra vez numa fase em que era bemvindo um comprador que adquirisse por 5, 6 ou 7 milhões aquele terreno, onde esteve o mercado de gado, para fazer fosse o que fosse.

Há alguns anos a câmara também ajudou o CNEMA, quando este passava por dificuldades.

Se me puderem dar algum exemplo agradeço, porque, pela informação que tenho, a câmara nem sequer nos faz descontos nas taxas. Tivemos que limpar aquele terreno para expansão do parque de estacionamento e tivemos que pagar 40 mil euros à câmara. Não houve desconto nenhum. Foi a mesma coisa que não fossem accionistas.

Ainda há processos antigos em tribunal envolvendo o CNEMA e a Câmara de Santarém. Não conseguem resolver isso a bem?

Isso pergunto eu. E coloquei essa questão há pouco tempo ao senhor presidente da câmara. Ele respondeu-me taxativamente que tudo o que está em tribunal é em tribunal que tem de se resolver. A câmara não tem um problema com o CNEMA, tem centenas de problemas com centenas de entidades. E não poderia, por ser accionista do CNEMA, criar uma espécie de preferência para ir resolver, negociando, aquelas situações. Mas os processos que existem têm origens e não são das pessoas que lá estão hoje. Temos uma relação completamente aberta com o presidente Ricardo Gonçalves, mas não obtemos da sua parte qualquer preferência. Ele tem as suas razões e assim deve fazê-lo por uma questão de isenção.

Mas não deixa de ser estranho que um accionista tenha um litígio com a sociedade onde tem uma posição de relevo e a cuja administração pertence.

É verdade. Se a câmara municipal tiver condições para promover o fim desses processos, nós estamos cá para a ouvir. Do nosso lado já foi dado esse passo.

Pela primeira vez, a CONFAGRI deixou de fazer parte dos órgãos sociais do CNEMA, por decisão da CAP, a que o senhor também preside, por desentendimentos entre as duas entidades. Imperou a lei do mais forte?

Não é uma questão de lei do mais forte. Não sou pessoa de alimentar litígios, mas quem não se sente não é filho de boa gente. A CAP tem um nome a defender e foi ‘atacada’ pela CONFAGRI, talvez com alguma não intenção. O erro foi identificado, o processo foi esclarecido e foi perguntado à CONFAGRI se queria retractar-se das declarações que fez junto do Ministério da Agricultura e arrumar o assunto, repondo a verdade. Como não o fez, entendemos que não tínhamos condições para trabalhar em conjunto. No dia em que a CONFAGRI se retractar sou o primeiro a convidá-la a sentar-se outra vez à mesa do conselho de administração do CNEMA.

É falso que o CNEMA tenha tentado comprar a Agroglobal

O CNEMA teve uma proximidade com a organização da feira Agroglobal que parece ter-se esbatido. Este ano não nos recordamos de ver elementos do CNEMA a participar em iniciativas e palestras. Passou-se alguma coisa ou entendem que não devem participar numa feira vizinha?

O CNEMA e a Agroglobal têm excelentes relações. São feiras que se complementam. A Agroglobal tem características que a tornam impossível de realizar noutros sítios e que em boa hora apareceu, muito graças ao espírito empreendedor do engenheiro Joaquim Pedro Torres. A Agroglobal não concorre com a Feira Nacional de Agricultura porque são feiras distintas. A FNA é uma feira de exibição, mais popular, com características técnicas integradas, e não tem que ter medo que apareça uma Agroglobal. Esta é uma feira muito profissional, vocacionada para as grandes culturas, não tem programas culturais associados. Desconheço como vai ser no futuro, mas nada impede que não possa haver uma aproximação estreita entre a figura da FNA e a figura da Agroglobal. Este ano, a Agroglobal teve de ser adiada, tal como a FNA, e depois montou-se uma Agroglobal muito virtual, com poucas pessoas presentes, por isso não houve um envolvimento idêntico a anos anteriores.

O CNEMA tentou comprar a Agroglobal?

Não, nunca houve nenhuma tentativa nesse sentido. É falso. Falava-se que o CNEMA tinha oferecido 3 milhões, 5 milhões, depois já não era o CNEMA, era outra entidade... Isso não é verdade. Nunca fizemos qualquer proposta para aquisição da Agroglobal.

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