uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante
“Não gosto que decidam por mim e na política não me apanham mais”
António Tomé Gonçalves é proprietário da Tomé & Lopes Lda., em Castanheira do Ribatejo, há 47 anos

“Não gosto que decidam por mim e na política não me apanham mais”

António Tomé Gonçalves, 72 anos, é proprietário da Tomé & Lopes, Lda., empresa de electrodomésticos e material eléctrico, em Castanheira do Ribatejo. A vontade de ajudar e fazer da terra um lugar melhor levou-o a dirigir as associações com maior expressão. No início deste século foi candidato a presidente de junta e líder da assembleia de freguesia durante dois anos. Demitiu-se e diz que ficou vacinado da política.

Desde muito novo senti vontade de ajudar e fazer algo mais pela minha terra. Entristece-me que a juventude hoje viva fechada em casa à volta das teclas e de costas voltadas para o mundo exterior.
Quando fui eleito presidente do Juventude da Castanheira o clube andava pelas ruas da amargura. O clube estava entalado em dívidas mas nada que se compare aos dias de hoje. Já dei voltas e voltas mas ainda não percebi como é que se atinge meio milhão em dívidas.
Há os que se metem nas associações para servir e os que vão para se servir. Gerir uma associação dá trabalho mas há quem ainda não tenha percebido isso. A actual direcção tem vontade mas duvido que sem maior apoio do município consiga dar a volta.
Nasci em Carapinheira do Campo, uma aldeia do distrito de Coimbra. Vivo em Castanheira do Ribatejo desde os cinco anos, numa altura em que havia mais pomares do que casas e passava um carro uma vez por dia. Sinto esta terra como se fosse minha.
Não deve haver ninguém no mundo mais sério do que eu. Talvez por isso não suporte que duvidem da minha palavra. Sou teimoso e se isso é um defeito defendo que também pode ser uma virtude, para conseguir chegar onde quero.
Abri o meu negócio há 47 anos. O segredo para ser bem sucedido profissionalmente é ter vontade de servir bem. Os meus clientes sabem que têm de mim o que precisarem. Estou sempre disponível para ajudar seja quem for e com isso não me livro de vender fiado, às vezes sem vir a receber.
Em cada cliente tenho um amigo. Ninguém agrada a toda a gente mas inimigos acho que não tenho. Orgulho-me de hoje poder servir jovens que já são filhos e netos de clientes meus. A minha esposa é o meu braço direito em casa e no negócio. Começamos a namorar tinha ela 14 anos e eu 17. Somos casados há 47 anos e temos duas filhas, duas netas e um neto que são o bem mais precioso que tenho na vida.
O Natal sempre foi passado com a família toda reunida à volta da mesa. Este ano não vai ser assim. Cada um estará em sua casa. Vão valer-nos os telemóveis e as vídeochamadas. Sou sportinguista mas não sou fanático pelo futebol. Sou sócio fundador da Tertúlia Leonina, de Castanheira, que mais do que juntar sportinguistas foi criada para ser um espaço de convívio para as pessoas da terra.
Na tropa vivi os melhores anos da minha juventude. Tinha lá dentro mais liberdade do que cá fora. Comecei a trabalhar aos 14 anos numa fábrica e mais tarde com o meu pai na distribuição de gás.
Um dia entrei numa assembleia da Associação Promotora de Apoio à Terceira Idade (APATI) e saí de lá presidente. Nunca tinha entrado na instituição mas não havia dúvidas de que precisava de um novo rumo. Foi nessa altura que a APATI cresceu com a compra do prédio onde ainda hoje funciona.
Quando era jovem organizava as melhores festas que alguma vez esta vila recebeu. Toda a gente saía de casa e enchia as ruas todas engalanadas. Hoje já não é assim, este tipo de festas tradicionais tem vindo a perder expressão. A Castanheira é a freguesia esquecida do concelho de Vila Franca de Xira. Tudo o que vem é tirado a ferros da câmara municipal porque aqui só se investe o quanto baste e não passa disso.
Meti-me na política ao desafio. Em 2001 fui candidato independente apoiado pelo Partido Socialista à União de Freguesias de Castanheira do Ribatejo e Cachoeiras e perdi por cerca de 100 votos. Cheguei a ser presidente da assembleia de freguesia e demiti-me ao fim de dois anos.
Percebi muito rapidamente que não tenho feitio para politiquices. Não gosto que decidam por mim e na política não me apanham mais. Fui vacinado e bastou-me a primeira dose.
Fiz parte da primeira direcção dos Bombeiros Voluntários de Castanheira do Ribatejo. Na altura o quartel era uma barraca num jardim e nem uma ambulância havia. Continuo sócio como forma de os ajudar e retribuir o que fazem pela população.

“Não gosto que decidam por mim e na política não me apanham mais”

Mais Notícias

    A carregar...

    Capas

    Assine O MIRANTE e receba o Jornal em casa
    Clique para fazer o pedido