Três Dimensões | 19-03-2024 07:00

“Benavente parou no tempo e tem pouco investimento”

“Benavente parou no tempo e tem pouco investimento”
TRÊS DIMENSÕES
João Luís Silva assumiu no ano passado a gestão da Agência Funerária Santa Padroeira, em Benavente, depois do seu sogro se ter reformado

Nascido e criado em Benavente João Luís Silva assumiu no ano passado a funerária do sogro. Durante 18 anos aprendeu com o antigo patrão, até abrir em nome próprio a Agência Funerária Santa Padroeira. O empresário lamenta que o poder autárquico pouco tenha investido na freguesia que para ele está estagnada.

Trabalhei 18 anos com o meu sogro até ele se reformar em Janeiro de 2023. A partir daí iniciei actividade por conta própria e tirei formação profissional. Antes disso trabalhei na construção civil. O negócio começou a descambar porque eram mais os que me deviam do que os que pagavam. O meu sogro fez-me uma proposta para a funerária e aceitei. Quando comecei nesta actividade perguntavam-me se fazia confusão vestir os falecidos. A parte mais desafiante é sempre quando encontramos um filho a chorar por um pai ou vice-versa. Naquele momento final, quando o corpo baixa à terra, ainda hoje me afasto. Não gosto de ver.
Tenho duas filhas e trabalhar com o meu sogro deu-me disponibilidade para acompanhar todo o seu crescimento. Sempre as habituei a ver as urnas. Desde pequenas que entram no armazém e brincam. Se os clientes me perguntarem acho que não se deve insistir com as crianças para assistirem a um funeral, se elas não quiserem. Deverá partir da própria criança, se assim o entender.
Acabamos por criar uma capa para atenuar algumas situações. Tentamos acalmar e tranquilizar as famílias e dar apoio pós-serviço. Os nossos clientes acabam por ficar nossos amigos. O meu sogro era um agente funerário mais tradicional e nós temos contacto mais próximo com as pessoas. Sempre tive a mentalidade que o meu cliente é o vivo, quem contratou o serviço. Isto é um meio pequeno e as pessoas conhecem-se todas. Sou o agente funerário da terra e sabe-se tudo. Existe proximidade e gosto disso. Conhecem-me e tratam-me bem e isso não é possível num meio maior. Em Benavente não existe mais nenhuma agência funerária.
A parte pior deste ramo é não ter horários. Trabalho com a minha esposa e acabamos os dois por não ter horas. Temos outro colaborador connosco mas já nos mentalizámos que nos próximos cinco anos as férias vão ser de fugida. As idas para o Algarve acabaram porque não temos tempo.
Um aeroporto no campo de tiro era bom para o concelho porque ia obrigar ao seu desenvolvimento. Tem a desvantagem do ruído mas era bom a nível económico. Benavente pouco evoluiu, está parado e com pouco investimento. Algumas coisas foram feitas sem consultar a população como a reabilitação do centro histórico que devia ter sido feita de outra forma, com outro pavimento. Benavente não tem nenhuma oferta de habitação. Estagnou desde que se criou o pólo nas Areias.
Sou um bocadinho ansioso e sofro por antecipação. Mas sempre que posso vou para a beira-rio à pesca. Posso não pescar nada, mas só de ouvir os pássaros fico melhor. É um hábito que vem desde pequeno porque já ia com o meu avô. Cheguei a fazer pesca desportiva e com convívios ao fim-de-semana. Temos uma pista de pesca em Benavente que está mal aproveitada e muitas pessoas nem sabem que existe.
A nível turístico não temos mais nada. A zona ribeirinha devia ser explorada. O arroz carolino vale o que vale mas não chega.
O meu objectivo na funerária é crescer, evoluir e eventualmente ter mais alguém para poder ter mais tempo livre. É um negócio de família e uma luta a dois.

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