Cultura | 03-05-2024 21:00

Davide Susca: um artista italiano que se encantou pelo Ribatejo

Davide Susca: um artista italiano que se encantou pelo Ribatejo
Pintor de origem italiana, Davide Susca, vive na Ereira e já expôs quadros em vários países

Davide Susca tem um ateliê de pintura em casa, na Ereira, Cartaxo. De origem italiana, mudou-se para Portugal em 2005. Gosta de combinar materiais e defende que o gesto artístico não é a pintura em si, mas a criação. O MIRANTE esteve à conversa no seu atelier para conhecer a sua história e a história de vida dos pais, que emigraram para o Luxemburgo nos anos 60.

Davide Susca, 53 anos, é um pintor de origem italiana a viver na Ereira, concelho do Cartaxo, desde 2005. Os pais emigraram na década de 60 para o Luxemburgo em busca de melhores condições de vida e foi lá que nasceu, embora nunca tenha sentido o país como seu. Licenciado em arquitectura de interiores, trabalhou a receber o salário mínimo e defende que já não compensa os portugueses emigrarem para o Luxemburgo, devido ao elevado custo de vida. Mudou-se para Portugal devido à doença da falecida esposa, de Manique do Intendente, a quem recomendaram um país solarengo. Diz que os problemas também podem ser fonte de inspiração.
“A pintura é como a vida: às vezes há um percalço, mas desse percalço pode nascer outra coisa”, afirma o artista que já expôs na Suíça, Canadá, França, Alemanha e em Agosto terá os seus quadros em exibição no Mónaco. Utiliza acrílico, plástico derretido de garrafas que encontra na praia, óleo, canetas e tintas em spray sobre materiais como telas e serapilheira, pintando também em azulejo. Um dos seus muitos quadros é inspirado na luz do famoso quadro Guernica, de Pablo Picasso, tendo feito uma ligação com a guerra na Ucrânia e os bombardeamentos em Kharkiv. “Quando fiz o quadro imaginei um artista na Ucrânia ou na Rússia a querer ‘falar’ e a não ter material. Também utilizei o plástico”, explica, referindo que “o gesto artístico não é a pintura em si, mas a criação”.
Davide Susca ficava encantado em criança ao ver as tintas e as cores no ateliê do tio. A mãe, Vincenza, também pintava e fazia teatro, mas não teve coragem de ser artista pela mentalidade do seu avô, acabando como secretária no Parlamento Europeu no Luxemburgo. Vincenza pintava à noite quando vinha do trabalho e tinha a tendência de pintar em cartões. O pai, Domenico, estava predestinado a ser padre por ser o primeiro filho da família no sul de Itália. Foi o primeiro a emigrar para o Luxemburgo, em 1963, e tornou-se electricista.
Davide Susca conta que no Luxemburgo vendeu muitos quadros porque trabalhava para os clientes e não para o que sentia. A maioria dos quadros que vendeu em Portugal foi para holandeses e ingleses porque, diz, as pessoas de cá gostam mas não querem pagar o trabalho. Enquanto a casa na Ereira ganhava forma, viveu na casa dos sogros em Manique do Intendente, no concelho de Azambuja. No primeiro ano não falava português e durante os quatro anos da construção da sua moradia não pintou. “Eles não ligavam nada à arte e fiquei com dúvidas. Deixei o Luxemburgo, onde tinha galerias, mas disse para mim próprio que era outra experiência e que a pintura não é tudo na vida”, revela, acrescentando que não podia ir para melhor sítio para conhecer Portugal: “senti-me enraizado por causa das festas, da vida no campo. Ajudava os conhecidos com a vinha e fiz a vindima”.
Neste momento está a viver com a pintora Teresa Vicente, de Fátima, que pinta nus. Conheceram-se há quatro anos e meio numa exposição em Leiria. O artista tem ainda dois irmãos, o mais velho a viver no Luxemburgo e o do meio na Hungria. No início da década de 2000 esteve em Portugal e expôs na Galeria José Tagarro, no Cartaxo. Revela que na inauguração estiveram três pessoas e ninguém do executivo, lamentando ainda que em Portugal não haja o hábito dos pais ou avós levarem as crianças ao museu e só se deparar com turistas.

Um italiano que não gosta de pizza

Questionado sobre a cozinha italiana, Davide Susca afirma, em jeito de brincadeira, que deve ser o único italiano que não gosta de pizza, mas que tem saudades dos gelados. Garante que em Portugal, apesar das dificuldades, existe qualidade de vida, uma vez que as pessoas vivem menos para o trabalho do que se optassem por emigrar. Vão podendo ir ao restaurante e tomar o seu café pela manhã antes do trabalho.

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