Entrevista | 30-04-2024 10:00

Pedro Ribeiro: “não estou dependente da política e devo isso ao José Sousa Gomes”

Pedro Ribeiro: “não estou dependente da política e devo isso ao José Sousa Gomes”
Pedro Ribeiro, presidente da Câmara de Almeirim está a cumprir o seu último mandato à frente dos destinos do município

Para desilusão de alguns socialistas de Santarém, que andavam a dar o seu nome como certo numa candidatura à presidência da câmara da capital de distrito, o presidente da Câmara de Almeirim, em final de mandato, garante que preferia ir trabalhar para as Finanças, onde tem um lugar cativo que só ocupou durante quatro anos.

Confessa que se tiver de ser funcionário público é porque precisa de pagar contas e não se está a ver num cargo de nomeação. Pedro Miguel César Ribeiro começou na política há três décadas, tendo sido vereador, vice-presidente e chegou a presidente da Câmara de Almeirim cumprindo um sonho, sendo também eleito pelos seus pares para dirigir a Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo. Diz que no Verão é que vai pensar na sua vida para depois das eleições, assegurando que não vai baixar o ritmo até ao último dia. No concelho costuma-se dizer que é um autarca que casou com a política, porque vai a todas as iniciativas e às tantas da noite ainda anda a ver se foi tapado um buraco numa estrada, mas, não sendo pessoa de revelar pormenores sobre a sua vida pessoal, desvenda que afinal além da política há mais alguém na sua vida.


Corre em Santarém que vai ser o candidato à câmara da capital de distrito. Já uma vez disse que não, mas agora até elementos do seu partido afirmam que vai concorrer.
Também ouvi dizer isso, mas não sou candidato. Também soube que andaram a fazer uma sondagem onde colocaram o meu nome e foi-me garantido que não é do PS e portanto isso não é assunto. Estou focado nas coisas que tenho que fazer e que quero fazer.
Sai da Câmara de Almeirim e depois continua ou não na política activa?
A política activa não depende de estar na câmara, não sei. Sou funcionário da administração tributária na repartição de Finanças em Rio Maior. É o meu lugar de origem e no Verão, quando faltar um ano para as eleições pensarei o que é que vou fazer.
Pode andar a dizer que vai para as Finanças, mas as pessoas não acreditam nisso. A questão de ter um lugar nesse organismo parece mais a tábua de salvação quando tudo falhar.
Há uma coisa que tenho de agradecer ao meu antecessor. Quando vim para a política o José Sousa Gomes disse-me que seria vereador sem tempo atribuído e que só seria vereador com remuneração a meio-tempo ou tempo inteiro se tivesse um emprego. Tinha pouco mais de 20 anos e não entendi. Depois percebi que não devia estar dependente da política. Tenho a agradecer esse e outros ensinamentos. Se não tiver mais nada volto para o meu lugar nas Finanças, onde já trabalhei quatro anos. Se me perguntarem se era feliz a fazer aquilo, não era. Mas uma coisa é ser feliz a fazer o que se gosta, outra coisa é ter que pagar contas no final do mês.
Já que vai reflectir no Verão, pode aproveitar, como fez a sua anterior colega de Tomar, e sair nessa altura para dar espaço ao potencial candidato, que seguindo a lógica do PS em Almeirim será alguém do executivo.
Sempre disse, a não ser que aconteça alguma coisa perfeitamente anormal, que pretendia fazer o mandato até ao final. Não sei o que é que vou fazer depois, mas sei que não quero calçar as pantufas, até porque também não posso e irei continuar a ter intervenção política. Há quem entenda que o último mandato é aquela altura de se ter tempo para muita coisa. Eu continuo a trabalhar da mesma maneira e felizmente não tenho tido tempo para estar quieto a pensar no meu futuro.
Do ponto de vista político, um lugar na entidade de turismo ou na Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional são interessantes?
Nada disso. Gosto muito de cargos por eleição directa e não me estou a ver propriamente em algum cargo de nomeação. E um cargo de eleição é possível nas autarquias, no Parlamento. O cargo mais interessante da política é claramente ser autarca porque é o que nos permite ir avaliando as coisas e ir resolvendo os problemas das pessoas. O cargo de deputado é diferente. Tenho uma perspectiva de que um deputado deve ter um gabinete no distrito pelo qual é eleito e uma ligação muito directa junto das instituições e das pessoas.
Está satisfeito com a forma como as listas são feitas, com pessoas de fora do distrito, como ainda agora aconteceu nas legislativas com o PS a colocar como cabeça de lista Alexandra Leitão?
Sou defensor da criação de círculos uninominais, ou seja, as pessoas têm que saber em cada uma das regiões quem é que são as pessoas que elegem directamente. Depois haver um círculo nacional de compensação.
Há anos que não se lhe conhece namorada, não tem paciência para aturar mulheres, ou casou-se com a política?
Não é isso. Há coisas que nunca fiz. Nunca trouxe para vida política as questões pessoais. A minha vida pessoal vai-se organizando. Uma coisa é o que é público, outra coisa é o que acontece e, portanto, essas informações estão um bocado desactualizadas.
O seu filho foi feito sócio do Benfica sem ainda saber falar, também o vai inscrever no PS?
Gostava que ele partilhasse um conjunto de ideias que são as minhas, mas isso o tempo dirá se vai ser assim. Ele já foi muitas vezes a iniciativas políticas comigo. Gostar da política é importante. Todos devíamos gostar de política. Se depois faz política partidária ou não nisso não me meto. Incuto a importância de ver notícias, de estar informado e ele, às vezes, faz perguntas até sobre questões de política internacional e isso é bom porque o obriga a pensar e também me faz pensar.

O estado deplorável da vala, as ruas de pedras e a zona dos restaurantes

O presidente tem preocupações ambientais, mas porque é que há um esgoto a correr para a vala real nas traseiras da Quinta da Alorna?
O que há lá é um esgoto pluvial. Mas temos de ter consciência de que ao longo de décadas houve pessoas que ligaram os esgotos domésticos aos esgotos pluviais. Com o tempo vamos conseguindo identificar essas situações e reconverter as redes.
A vala real, também chamada Vala de Alpiarça, está numa situação deplorável…
Durante uma série de anos fizemos um conjunto de diques provisórios para manter o nível da água na vala. Houve uma determinada altura que a Agência Portuguesa do Ambiente nos disse que não podíamos fazer isso. Durante muitos anos foram feitas limpezas pela associação dos marinheiros, que também disseram que não podiam ser feitas daquela forma e também acabaram. Quando há instituições querem ter o ideal do mundo o resultado é haver problemas. A vala não é da câmara, mas mesmo assim estamos a tentar fazer uma limpeza, nomeadamente desobustruir algumas zonas por exemplo nas pontes do Casal Branco e de Benfica do Ribatejo. E fazemos isso por uma questão moral, porque a competência não é nossa.
As ruas de seixo no Bairro da Troia vai levar uma faixa alcatroada, é o início do fim destas ruas de pedras?
Não, não é. Antes pelo contrário. É o princípio para manter aquilo. Há ruas com cinco metros e para fazermos passeios temos de acabar com o estacionamento. Não é possível não ter estacionamento naquelas ruas. Se alcatroar a rua toda e existrem passeios as velocidades dos carros vão disparar. Assim com uma faixa alcotrada de circulação mista as pessoas andam na estrada e os carros têm de circular devagar, com limite de velocidade máximo de 20 kms/h e em que os peões têm prioridade.
Meter carros, bicicletas e peões na mesma zona de circulação não vai ser uma fonte de conflitos?
Se as pessoas querem mobilidade naquelas ruas, os carros têm que andar devagar. Não posso querer enquanto condutor andar à velocidade que quero e ninguém me chatear e depois quando sou peão querer que os outros condutores andem devagar. Quem circula nestas ruas é essencialmente quem mora na zona e deve saber da importância que é andar devagar.
Há uns tempos apresentou um projecto para requalificação das praças junto à praça de toiros. Nunca mais se ouviu falar do assunto, portanto é para esquecer, certo?
Houve a possibilidade de obtermos fundos para fazer a obra e estivemos à espera do overbooking (excedente de fundos que são redistribuídos) o que não aconteceu. Neste momento não temos fundos para uma intervenção grande no espaço. O projecto que temos não é para diminuir o estacionamento. É para reorganizar e aumentar.
Esse projecto também previa retirar o trânsito da rua que passa junto aos restaurantes da sopa da pedra. Desistiu da ideia?
O que acho que faz sentido é fazer a intervenção aos bocados. Sendo que a estrada entre os restaurantes o Pinheiro e o Forno, com a interdição do trânsito, é mais fácil de avançar. Vamos percebendo que as pessoas querem espaço para estar e aumentar a segurança. Esta requalificação permite que os restaurantes tenham espaços no exterior.

Se a direcção da comunidade intermunicipal fosse eleita
pelos cidadãos o modo de estar seria diferente

O seu colega de Santarém, Ricardo Gonçalves, disse que há tacitismo político na Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo (CIMLT), referindo-se ao novo aeroporto e outras questões. Enquanto presidente do organismo o que é que tem a dizer?
As decisões na comunidade têm sido todas ao longo dos tempos por unanimidade. Se me perguntarem se quando começamos as discussões estamos de acordo? Não. Quando acabamos as discussões temos tido a capacidade de estar todos do mesmo lado? Sim. Quando se começou a falar nas opções para o novo aeroporto tomámos uma posição a favor do aeroporto no concelho de Benavente, que não é em Alcochete como dizem. A partir do momento que apareceu a hipótese Santarém a minha posição foi de que a CIMLT, que não tem influência na decisão, seja a favor de que o investimento fique na região para não se criarem divisões, uma vez que os dois municípios fazem parte da comunidade.
É raro ver-se uma posição, uma reivindicação, uma opinião da CIMLT. A comunidade intermunicipal não sabe comunicar ou quer passar despercebida?
As comunidades têm duas hipóteses. Ou são intervenientes, altamente politizadas, e correm para o bem ou para o mal esses riscos, ou são mais discretas e tentam resolver os problemas. Temos uma filosofia de trabalhar em conjunto para resolver problemas e muitas vezes para poupar recursos como na contratação de energia ou refeições escolares em conjunto para todos os municípios.
Fica satisfeito que não exista uma voz na sub-região para reivindicar o que é necessário, por exemplo o IC3 que não passa de promessas há mais de duas décadas?
A comunidade não tem que ser aquilo que do ponto de vista orgânico não é. Se a direcção da comunidade ou o presidente da comunidade fossem eleitos pelos cidadãos dos concelhos que a compõem, a forma de estar seria completamente diferente. A comunidade tem que tentar encontrar os equilíbrios entre aquilo que são as várias realidades, porque a realidade da Golegã não é a mesma de Benavente, os problemas de Azambuja que está encostada a Lisboa são diferentes dos problemas da Chamusca. Por isso temos de encontrar os mínimos denominadores comuns. Por isso não andamos publicamente a reivindicar coisas ou a fazer protestos.

A possibilidade de comprar antiga gare da rodoviária de Almeirim e o que levou à criação de uma empresa de transportes

A CIMLT passou a ter competência da área dos transportes de passageiros e optou por criar uma empresa intermunicipal. Tem noção que vai provocar um rombo nas operadoras actuais nesta zona, que são a Rodoviária do Tejo e Ribatejana.
Fizemos um concurso público e a empresa em causa não concorreu porque dizia que não havia condições económicas e que precisava de mais dinheiro, mas temos estudos que dizem que não. Depois quisemos comprar a Rodoviária do Tejo e a Ribatejana e mandámos fazer uma avaliação. A empresa pediu mais um milhão e que assumíssemos uma dívida de 500 mil euros, mas não podíamos fazer isso porque a lei não permite. Não havendo concorrentes para a concessão, não conseguindo comprar as empresas, havia duas soluções: ou gastávamos mais dinheiro ou constituíamos uma empresa.
Porque é que desistiram do terminal no Campo Infante da Câmara e optaram por comprar a actual gare onde opera a Rodoviária do Tejo?
Antes de constituirmos a empresa, fizemos um concurso público para concessionar os transportes e não podíamos dizer que o terminal era no sítio onde é actualmente porque o espaço estava arrendado à Rodoviária do Tejo, mas entretanto houve a possibilidade de fazer esta compra. Há quem diga que se deveria retirar os autocarros do centro da cidade, mas isso implicaria que as pessoas deixavam de poder ficar no centro da cidade.
Aprendeu com o erro que se cometeu em Almeirim de se construir um centro de transportes na periferia, que apenas serve como garagem. Agora falta comprar a antiga gare que é das mesmas pessoas a quem compraram a de Santarém.
Esse assunto está em cima da mesa. Não estamos em negociações porque estamos a tratar de outras compras, como a do terreno para a construção de habitação em que só falta obter os vistos do Tribunal de Contas. Mas essa situação não está fora de equação porque é importante ter um espaço no centro da cidade. Chegou-se à conclusão que não podemos querer ter mobilidade dizendo que ela sai do centro e vai para a periferia. Aquilo tem que ser mais do que é, mas não é fácil porque está a dois quilómetros do centro da cidade.

Um presidente agarrado ao telemóvel que proibiu o seu uso nas escolas e a quem dá gozo responder a mensagens

Qual é a ideia de criar um grupo dos seus contactos no WhatsApp e mandar mensagens sobre ementas escolares, ou que foi almoçar a uma escola, ou a dizer que reparou um buraco no passeio para pessoas que nem são do concelho?
É uma forma de divulgação daquilo que vamos fazendo mantendo as pessoas informadas. As pessoas podem sair do grupo a qualquer momento.
Portanto, anda viciado, porque é visto seja onde for, até em cerimónias, agarrado ao telemóvel.
Tento ir respondendo ao que pessoas vão perguntando e recebo dezenas de mensagens sobre coisas que é preciso melhorar e aproveito alguns momentos para ver e reencaminhar para os serviços. É uma coisa que me dá mesmo gozo. Antigamente as pessoas tinham de ir à câmara colocar as situações, assim facilito a vida aos munícipes.
Como é que se explica a uma criança ou adolescente que o presidente da câmara fez com que fossem proibidos de usar o telemóvel nas escolas e que ele próprio passa a vida a usá-lo?
O presidente da câmara quando vai à escola não usa o telemóvel. As novas tecnologias têm coisas boas e coisas más. As coisas más estão identificadas por médicos. O presidente utiliza o telefone numa lógica de trabalho, de informação. Para uns é um instrumento de trabalho para outros é um brinquedo. Tenho o cuidado de quando estou nas escolas não usar o telemóvel.

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