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Estudar no estrangeiro é uma lição de vida

Estudar no estrangeiro é uma lição de vida

Margarida Albino, Tiago Russo e Fábio Brito e viveram e estudaram durante alguns meses noutros países europeus no âmbito do programa Erasmus. Uma experiência única e que recomendam, apesar das saudades que tiveram da família, dos amigos, do clima e da comida nacional. Uma reportagem no âmbito do Dia Internacional da Juventude, que se assinala a 12 de Agosto.

Margarida Albino, da Póvoa de Santa Iria, foi estudar para a Eslováquia

“Foi uma experiência muito boa mas prefiro viver em Portugal”

Margarida Albino sempre teve vontade de fazer Erasmus (programa que permite aos estudantes universitários estudar durante uns meses noutro país da União Europeia) e quando surgiu a oportunidade não pensou duas vezes. A jovem da Póvoa de Santa Iria estava a iniciar o 3º ano do curso de Marketing e Publicidade, na Escola Superior de Gestão de Santarém, quando aterrou em Bratislava, capital da Eslováquia.

O principal objectivo era sair da sua zona de conforto e experimentar viver noutro país. Escolheu Bratislava porque teve a oportunidade de conhecer e viajar para outros países vizinhos sem gastar muito dinheiro. Filha única, foi a primeira vez que esteve tanto tempo afastada da família e tão longe de todos os que mais ama. Despediu-se da família e do namorado de coração apertado mas cheia de expectativas para viver os seis meses mais enriquecedores da sua vida. Escolheu a Eslováquia por ser um país não muito caro e com uma cultura totalmente diferente da portuguesa.

A jovem, de 23 anos, conta a O MIRANTE que o primeiro dia na Eslováquia foi repleto de emoções, até porque estava à espera que a residência onde ia morar tivesse melhores condições. “Na residência onde vivi tinha tudo de bom e também de mau. Estava perto de toda a gente mas havia demasiadas pessoas para o que estou habituada”, afirma.

Viveu seis meses com alguns colegas de curso e conheceu muita gente. A primeira percepção que teve foi que as pessoas não eram tão simpáticas como os portugueses. “É uma cultura muito fechada e um país completamente diferente do nosso e com horários distintos daqueles a que estamos habituados”, conta a O MIRANTE. Durante o tempo em que viveu na Eslováquia frequentou a Comenius University.

Margarida Albino explica que aproveitou de tudo um pouco. Estudou bastante mas também aproveitou a noite. Admite que cresceu imenso durante os seis meses de Erasmus. “Ajudou-me a solidificar relações e a ganhar outro tipo de responsabilidade. Ali estava por minha conta e longe de quem me poderia ajudar se precisasse”, sublinha.

Além da família, do namorado e do cão, do que Margarida Albino sentiu mais faltou foi da comida portuguesa. “A comida é totalmente diferente e para mim, que sou esquisita com o que como, não foi fácil adaptar-me à gastronomia de lá”, confessa.

À medida que o tempo ia passando as saudades do que deixou em Portugal foram aumentando e nas últimas semanas já custava lidar com a falta dos que ama. “Consegui gerir a relação com o meu namorado porque ele sabia que esta era uma experiência que eu queria muito e por isso apoiava-me e ajudou-me a lidar com as saudades. Foi um apoio enorme”, sublinha.

A jovem, que actualmente está a estagiar num banco, gostava de voltar a Bratislava daqui a uns anos. Margarida Albino aconselha os jovens a pouparem dinheiro, a ter juízo e aproveitar para viajar enquanto estão em Erasmus. “É uma experiência inesquecível e aconselho todos que tenham possibilidade a fazerem Erasmus”, refere.

Até porque passou também a dar muito mais valor ao país em que vive. “Não gostava de viver no estrangeiro. Portugal é um país seguro e com tudo de bom, desde a segurança ao bom tempo e à comida. Foi uma experiência muito boa mas prefiro viver em Portugal”, conclui.

Tiago Russo (à direita) em convívio com alguns dos amigos que conheceu na Polónia (foto DR)

O frio do Inverno polaco foi compensado pelas novas amizades

Tiago Russo chegou a Varsóvia, capital da Polónia, no dia 23 de Fevereiro de 2020. A pandemia de Covid-19 dava os primeiros passos na Europa e o medo do desconhecido também o atingiu. Apesar disso, o jovem de Azoia de Cima, concelho de Santarém, nunca teve intenção de cancelar o Erasmus e regressar mais cedo. “Achei que seria mais enriquecedor permanecer junto dos meus colegas que também optaram por ficar”, conta o jovem, de 21 anos, a O MIRANTE. Teve sempre todos os cuidados necessários, como utilizar máscara, desinfectar as mãos regularmente e não permanecer muito tempo em espaços fechados. Cuidados que ainda hoje mantém.

Licenciado em Turismo pela Universidade de Évora, decidiu embarcar nesta aventura à procura de novas experiências. Também quis conhecer pessoas diferentes de toda a Europa e não só. Escolheu Varsóvia porque sempre ouviu coisas boas sobre a cidade. No dia em que chegou chegaram também jovens de outros países que iam fazer o mesmo programa. Os estudantes polacos seriam os seus tutores e mostraram-lhes a residência onde viveram durante quatro meses. Também ficaram responsáveis por integrar os jovens estrangeiros na comunidade e na Józef Pilsudski University of Physical Education in Warsow.

O jovem considera Varsóvia uma cidade muito desenvolvida e com bons transportes públicos permitindo explorar outras cidades sem ser necessário automóvel. O custo de vida é muito mais barato do que em Portugal. Tiago Russo teve mais dificuldade em adaptar-se às temperaturas muito baixas de um Inverno rigoroso, muito diferente da temperatura em Portugal. O jovem adorou a experiência e o que mais gostou foi das amizades que construiu e o facto de se sentir em casa. “É uma cidade que me traz muitas memórias e onde fui muito feliz”, confessa.

Durante os quatro meses de estadia diz que ganhou um maior sentido de responsabilidade por estar sozinho. Falava com a família praticamente todos os dias através de videochamadas e era assim que matava saudades. Sentiu muita falta da gastronomia sobretudo da comida ribatejana. Admite não ser grande cozinheiro mas diz que se desenrascava sempre que era preciso.

Tiago Russo aproveitou o programa Erasmus ao máximo. Estudou bastante mas também aproveitou as noites de diversão em Varsóvia. Da Polónia trouxe uma mão cheia de novos amigos, explorou culturas que desconhecia e lidou com pessoas de diferentes partes do mundo que lhe transmitiram conhecimentos importantes. O jovem, que pretende prosseguir os estudos com um mestrado, gostava de um dia trabalhar no estrangeiro. O estudante de Turismo aconselha todos os jovens que tenham oportunidade para aproveitarem e fazerem Erasmus. “É uma escola de vida”, conclui.

Fábio Brito (ao centro) travou novas amizades no estrangeiro (foto DR)

“Não tenham medo de sair. Vão e façam acontecer”

Fábio Brito, 23 anos, participou no programa Erasmus em 2020 em plena pandemia. Apesar dos constrangimentos, o jovem, residente na Linhaceira (Tomar), considera que foi dos períodos mais divertidos da sua vida apesar de quase dois meses fechado na residência.

Sempre quis estudar fora para viver com maior independência e tornar-se mais responsável e autónomo. A oportunidade surgiu no último semestre da licenciatura de Gestão Turística e Cultural que tirou no Instituto Politécnico de Tomar (IPT), entre Fevereiro e Julho de 2020. A Polónia foi escolhida estrategicamente pelas equivalências que precisava. Embarcou para a cidade polaca de Bialystok com mais dois colegas que, um mês depois, com o início da pandemia, regressaram a Portugal. Ele ficou e não se arrepende. A O MIRANTE conta que a mãe “ficou logo de coração apertado, mas sempre me apoiou e o meu pai sempre foi mais liberal”.

Sem receios, preparou aquela que seria a sua primeira viagem para fora de Portugal. Quando questionado sobre se o programa Erasmus é só festas e paródia concorda “em absoluto”. No caso de Fábio, explica que “não foi muito exagerado porque estivemos fechados na residência praticamente dois meses, com aulas online devido à pandemia”. Diz que foi divertido, mas também limitado. “Foi preciso criatividade para fazer várias festas. Em Junho, quando aliviaram as medidas de contingência, é que fizemos um inter rail e visitámos várias cidades ali perto”.

O balanço que faz é positivo apesar do azar de ter vivido tudo “num ano atípico”. Considera que a experiência o marcou para a vida, assim como os amigos que fez. “Aconselho vivamente a qualquer estudante porque a diversidade cultural muda muito a mentalidade de uma pessoa. O facto de conviver com turcos, italianos, espanhóis, todos com formas diferentes de falar e agir, muda-nos. A absorção cultural é incrível”, relembra alegremente.

Ainda assim, explica que a adaptação à cultura polaca não foi tão fácil, referindo que naquela cidade viu muitos traços racistas, homofóbicos e xenófobos, sobretudo por parte dos homens.

O mercado de trabalho não é novo para Fábio Brito, que trabalha desde 2016, conciliando com os estudos. Tem os objectivos bem delineados e sabe onde quer chegar, por essa razão deixou a área do turismo, pois percebeu que é um mercado muito sensível. “Agora estou na fase de estabilizar, as viagens serão durante as férias. Quero conhecer Portugal de norte a sul, visitar os Açores e ir à Turquia visitar os amigos que fiz em Erasmus”, partilha.

Para os jovens que querem viajar e viver este tipo de experiências o jovem diz sem hesitar para que não tenham medo lançando o desafio para que saiam mais das suas zonas de conforto: “É quando enfrentamos algo que não nos deixa à vontade que crescemos. Vão lá e façam acontecer”.

Estudar no estrangeiro é uma lição de vida

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